Doses de Poesia
Foto: Thalita Mendes in Porto das Barcas Parnaíba -PI
Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destroi o seu amor próprio, quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo
todos os dias o mesmo trajeto, quem não muda de marca, não se arrisca a
vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televião o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o
branco em detrimento de um redemoinho de emoções. Justamente as que
resgatam o brilho nos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços
e sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu
trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um
sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos
conselhos sensatos.
Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva que cai incessante.
Morre lentamente quem abandona um projeto antes de iniciá-lo, não
pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe
indagam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples fato de respirar.
Pablo Neruda
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